sábado, 9 de janeiro de 2010

Almas



Para onde vão as almas depois da morte? Muitas pessoas, principalmente
as cristãs, acreditam que a alma continua a existir depois que o corpo baixa à sepultura. Fé religiosa. Não há nenhuma demonstração racional sobre o destino dessa entidade. Fica claro que não se discute a fé. No início deste novo ano, perguntei a algumas pessoas do meu convívio o que pensam a respeito
desse ser, para muitos, imortal. Imagino que a esta altura da vida e no início de uma nova época no nosso calendário, eu esteja tentando verificar se meus conhecidos estão ou não preocupados com a vida depois da morte, o que parece normal em qualquer octogenário ainda no uso da razão. A primeira entrevistada, pessoa idosa e realizada na vida, disse logo que procura fazer o bem sem olhar a quem, ouve conversas e falas sobre o assunto, mas não
consegue preocupar-se. Depois se verá. Mas não descartou a idéia que diz ser a alma umas combinações requintadas de neurônios; e quando eles são destruídos, ela segue o mesmo caminho. Verifiquei então que as indagações
deveriam andar por outro rumo. Talvez a pergunta fosse: o que é a essência da alma? Conversei com um velho caseiro de sítio do interior, homem reto,
querido e respeitado pelos vizinhos. O que o senhor pensa que é a alma? Ele matutou: “Os crentes falam uma coisa, o padre fala outra e eu acho que a alma é osangue. Se ele enfraqueceu, raleou e congelou, a alma também se acaba. E então não precisa rezar pelos defuntos ou as almas deles. Fazer o quê?”. Fui depois ao encontro de uma jovem advogada, de tradição religiosa, que não conta ainda 30 anos, e fiz a mesma pergunta. Ela respondeu logo: “A alma
é a energia da vida. Todo ser vivo tem alma. Fluxo vital. Quando o corpo fenece, a energia some”. Mas essa energia é profunda. Aí começa o mistério. Será que ela acaba? A razão, que não consegue provar a existência de uma alma imortal, tampouco aceita com placidez sua negação. O homem parece
demasiadamente grande e complexo para se reduzir à simples categoria
de um ser efêmero como as plantas e os animais irracionais. Convém lembrar agora o nosso poeta Mário Quintana: “A alma é uma coisa que nos pergunta se
a alma existe”. E, para finalizar, Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

Luiz Viegas de Carvalho
é psicanalista